Bruno Paulino garimpa memórias – acontecidas e sonhadas! – ao longo de
suas vivências de menino sertanejo. Nesse tear de gemas e gemidos, o jovem
prosador lança mão dos lápis de cores do seu coração marinheiro a azular as
miudezas do dia a dia mesquinho, a “esverdejar”, qual berilo esmeralda, esperas
e esperanças vazadas pelas negações e ausências do viver nordestinado.
Ergue-se então, o poeta que veleja pelas marés da tessitura da crônica,
gênero que muitas vezes resvala pelo mero fotografar de lembranças encharcadas
de desabafos em timbres confessionais. Ressalve-se que não é esse o “fazer
crônica” do referido escritor que afirma-se pelo ruminar da vida em contínua
ancoragem no papel inundado pelos vestígios do sangrar e do sonhar de um menino
do bravio sertão cearense. Nesse serpentear, o cronista reanima Quixeramobim à
luz de um olhar apaixonado pelo desaguar da melodia da terra em suas florações
de encontro e desencontro, de amor e desamor.
Eis assim, o despertar do cronista menino que não matava passarinhos,
neto do Vô Luís, Tangedor de Sonhos a bordo de uma cadeira de balanço…
Portanto, eis o menino poeta que se faz caçador de palavras multicores a voar
pelos ares, como passarinhos em eterno cantar de invernia.
Nesse horizonte mágico do verbal lírico, confesso que volto a
Quixeramobim em visita guiada pelo cronista poeta Bruno Paulino, encontro uma
cidade inédita para mim, diferente das várias Quixeramobins que venho
ajardinando em meus “lembrados” dourados. Descortina-se dessa edição, sopros de
vivências infantis e juvenis pontuadas por filigranas do dia a dia que escondem
relâmpagos de ternura e encantamentos de outros tempos e espaços que descolam
da alma sertaneja sempre sedenta pelo tilintar do “Maravilhoso” em contínua
cigania a cumprir a profecia de que “Deus quer ver o povo de Quixeramobim
feliz!”
Causa-me especial surpresa que um jovem dos tempos tecnológicos
contemporâneos movidos pelo domínio da “Era Digital”, venha escrever uma carta
para Manuel Bandeira, Poeta Maior. A meu ver, escrever uma carta entre os
caprichos de uma caligrafia vazada em papel azul é coisa de enamorado da Poesia
em viagem à deriva pelos vapores do século dezenove. Mas, para meu espanto, é
essa a escolha do citado jovem escritor que parece ancorar nos tempos
presentes, acendendo luzes de romantismos perdidos e aparentemente extintos,
mas ainda passíveis de um redespertar.
Será que os casarões de Quixerambim erguidos “à sombra dos pés de cajá e
juazeiros” podem ainda guardar perfumes e melodias do luminoso beato Antonio
Conselheiro, da bela Dona Guidinha do Poço, do menestrel Fausto Nilo, da mais
que devota catequista Dona Carminha André, e do sábio Jorge Simão? Bruno
Paulino vem me confirmar que sim, bem que eu desconfiava nas minhas romarias
pelo Reino Insólito da Infância! Cabe-me acreditar que Quixeramobim possui
“túneis do tempo” a operar quando bem dedilhados pelo talento de um mago das
Artes em floração.
“Mago da Palavra” é o que o verdadeiro Poeta sonha constituir-se ao
longo de duros pesares. Na Esfera transcendental da Profecia, regida por algum
dom de intuição que eu talvez possa acessar, mediante as proezas do “vento
aracati” tangido pelo três vezes Santo Padroeiro: Santo Antonio de Lisboa,
Santo Antonio de Pádua, e o não menor Santo Antonio de Quixeramobim… Eu ouso
vislumbrar que Bruno Paulino, enquanto cronista estreante, venha trilhar os
labirintos do Fazer Poético em Sinfonia Maior.
Por Diogo Fontenelle, Poeta Cearense e Doutor em Sociologia pela UFC.
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