terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Um pequeno olhar sobre A Menina da Chuva, livro de Bruno Paulino.

Bruno Paulino é uma das nossas revelações cearenses nos gêneros literários: crônica e conto. O livro aqui em questão chama-se A Menina da Chuva (Editora Premius, 2013). O autor é da região central de nosso estado, especificamente Bruno reside no município de Quixeramobim. Possui graduação em Letras e é pós-graduando em Filosofia da Educação, e este A Menina da Chuva é o seu segundo livro publicado.
Os textos desse livro ora são crônicas ora são contos, mas seja um ou outro, ambos possuem  um texto carregado de memória e sentimentalismo; com a imagem do sertão e de cenas descritas. O texto inicial A menina na chuva, que dá título ao livro, descreve a chegada da chuva na cidade grande sendo deslumbrada por uma menina do sertão.
Vários outros textos do livro utilizam este recurso de invasão psicológica na personagem e a descrição das cenas. Há certos textos em que a crônica e o conto se fundem, como no texto O Retrato que aqui transcrevo na integra:

Ao me pôr diante do álbum cheio de pó, meio gasto, castigado pelos anos esquecidos na gaveta da escrivaninha, espantei-me ao ver aquele menino radiante e mirrado. Ostentava, da mais remota infância, um sorriso branco, sincero, ainda que incompleto e translúcido. Já não me recordava daquela felicidade ingênua. Daqueles olhos distantes, do peito aberto, corajoso, destemido, valente.
Esbocei incrédulo, frente à fotografia antiga, um meio sorriso oblíquo e dissimulado. Não pelo que sou hoje — esse moço decrépito, sentimental diante de ontens incolores, mas pelo menino inteiro do qual me vesti nos anos idos. Que esqueceu os brinquedos espalhados por aí, no chão da infância. Pelo que poderia ter sido e fracassou, covardemente. Por aquele que — pelo acaso dos passos, não pisou firme — desencaminhou-se e perdeu-se para sempre de si e se encontra longe. Uma lágrima gorda ameaçou cair, não caiu. Mas apreciei salivando seu gosto salgado, como quem arranca de vez um pedaço da vida de anos mais verdes. Como quem viveu dez anos a mil.
Eu não queria ter amadurecido, queria ser o menino feliz, como nesse retrato preto e branco.

Como se percebe no texto acima, a linguagem é simples, porém aprofundada. Um simples que nos remete ao âmago da alma. Essa linguagem torna o livro acessível a todas as idades. Os temas são universais: a vida; o cotidiano, o amor, as lembranças, a terra de origem. O autor acertou nas escolhas e na composição desses temas. A leitura é agradável, alias esse livro pede uma rede e um lugar tranquilo para poder adentrar melhor nos textos.

Autores cearenses como Bruno Paulino são esquecidos da crítica literária. Por quê? Perguntariam alguns. Acredito que por estarmos fora dos grandes eixos econômicos nossa literatura que é igualmente rica como a de todos os estados brasileiros acaba sendo menos comentada, temos muitos escritores bons em nosso estado. Basta nos informar e não nos atermos  somente ao que os ditos “grandes” críticos falam.


por: Léo Prudêncio colunista do site LiteraturaBr. Leitor de Saramago; Salman Rushdie; Guimarães Rosa; Poeta de Meia-tigela; Arnaldo Antunes; Ferreira Gullar, dentre outros mais. Nas horas vagas escreve poemas e resenhas literárias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário