Bruno Paulino é uma das nossas revelações cearenses nos gêneros literários:
crônica e conto. O livro aqui em questão chama-se A Menina da Chuva (Editora Premius, 2013). O autor é da
região central de nosso estado, especificamente Bruno reside no município de
Quixeramobim. Possui graduação em Letras e é pós-graduando em Filosofia da
Educação, e este A Menina da Chuva é o
seu segundo livro publicado.
Os textos desse
livro ora são crônicas ora são contos, mas seja um ou outro, ambos possuem um texto carregado de memória e
sentimentalismo; com a imagem do sertão e de cenas descritas. O texto inicial A menina na chuva, que dá título ao
livro, descreve a chegada da chuva na cidade grande sendo deslumbrada por uma
menina do sertão.
Vários
outros textos do livro utilizam este recurso de invasão psicológica na
personagem e a descrição das cenas. Há certos textos em que a crônica e o conto
se fundem, como no texto O Retrato
que aqui transcrevo na integra:
Ao me pôr diante do álbum cheio de pó, meio
gasto, castigado pelos anos esquecidos na gaveta da escrivaninha, espantei-me
ao ver aquele menino radiante e mirrado. Ostentava, da mais remota infância, um
sorriso branco, sincero, ainda que incompleto e translúcido. Já não me
recordava daquela felicidade ingênua. Daqueles olhos distantes, do peito
aberto, corajoso, destemido, valente.
Esbocei incrédulo, frente à fotografia
antiga, um meio sorriso oblíquo e dissimulado. Não pelo que sou hoje — esse
moço decrépito, sentimental diante de ontens incolores, mas pelo menino inteiro
do qual me vesti nos anos idos. Que esqueceu os brinquedos espalhados por aí,
no chão da infância. Pelo que poderia ter sido e fracassou, covardemente. Por
aquele que — pelo acaso dos passos, não pisou firme — desencaminhou-se e perdeu-se
para sempre de si e se encontra longe. Uma lágrima gorda ameaçou cair, não
caiu. Mas apreciei salivando seu gosto salgado, como quem arranca de vez um
pedaço da vida de anos mais verdes. Como quem viveu dez anos a mil.
Eu não queria ter amadurecido, queria ser o
menino feliz, como nesse retrato preto e branco.
Como se
percebe no texto acima, a linguagem é simples, porém aprofundada. Um simples
que nos remete ao âmago da alma. Essa linguagem torna o livro acessível a todas
as idades. Os temas são universais: a vida; o cotidiano, o amor, as lembranças,
a terra de origem. O autor acertou nas escolhas e na composição desses temas. A
leitura é agradável, alias esse livro pede uma rede e um lugar tranquilo para
poder adentrar melhor nos textos.
Autores cearenses
como Bruno Paulino são esquecidos da crítica literária. Por quê? Perguntariam
alguns. Acredito que por estarmos fora dos grandes eixos econômicos nossa
literatura que é igualmente rica como a de todos os estados brasileiros acaba
sendo menos comentada, temos muitos escritores bons em nosso estado. Basta nos
informar e não nos atermos somente ao
que os ditos “grandes” críticos falam.
por: Léo Prudêncio colunista do site LiteraturaBr. Leitor de Saramago; Salman Rushdie;
Guimarães Rosa; Poeta de Meia-tigela; Arnaldo Antunes; Ferreira Gullar, dentre
outros mais. Nas horas vagas escreve poemas e resenhas literárias.
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