As pessoas que gostam de livros costumam comprá-los aos montes, quase no
metro, no quilo. Onde vão colocá-los ou quando vão lê-los são questões nas quais
não pensam de imediato. O bom mesmo é ter o livro. Melhor ainda é poder
cheirá-lo, sair com ele, passear, mostrá-lo aos amigos, amantes também de
livros, esperando por aquele rápido momento em que a inveja surgirá em algum,
quase imperceptível, gesto de mão, olhos, boca.
Quem realmente gosta de livros, adora dá-los de presente, bem como
recebê-los. Minha pessoa ainda não consegue vislumbrar, no entanto, a ação de
dar um livro digital de presente a alguém. E, por enquanto, também não tenho
interesse em receber. Sabendo disso, alguns amigos continuam me presenteando
com livros físicos. Se conseguirei ler todos os livros que ganho e compro antes
de morrer? Sinceramente não tenho tal preocupação. O que bem sei é que, de uma
forma ou outra eles continuam chegando e, cada um ao seu jeito, vão se chegando
aqui, se amontoando ali. E assim, vão ficando e fazendo parte da família.
Dias desses, uma amiga me trouxe o livro Lá nas Marinheiras e outras
crônicas (2012), de Bruno Paulino. O livro contém vinte crônicas que tratam de
tudo aquilo que uma crônica pode tratar. Se é que existe algo que não possa ser
tratado em uma crônica. Os textos de Bruno Paulino são de agradável leitura,
embora ainda careçam de uma maturidade que o próprio autor ainda não possui.
Bruno Paulino ainda é muito jovem, mas já demonstra determinação, vontade e
empenho tão necessários àqueles que desejam palmilhar os caminhos da escrita.
Suas crônicas, no entanto, não pecam pela imaturidade do autor e, a continuar
produzindo, a escrita de Bruno Paulino avançará a passos largos em direção à
maturidade literária que, deixemos claro, não está associada à idade; mas ao
tempo, à experimentação e à prática. Como aquele ourives do poema do Bilac, o
escritor precisa escrever, escrever, escrever mais e escrever melhor. Ao
escritor, menos inspiração, mais transpiração. Escrever, escrever e escrever.
Melhor que publicar é escrever. Muitas vezes é preciso deixar que os textos
dormitem em pastas, mesas e gavetas, para que possam apurar seu sabor, sua
textura. Só assim, estarão prontos para serem sorvidos em toda sua essência.
A crônica de Bruno Paulino é eivada da mais bela cor local. No seu
texto, transitam livremente suas memórias de seres, coisas e lugares. E pelas
linhas e entrelinhas do jovem cronista passam seu avô poeta, dona Carminha,
Manuel Bandeira, Ariano Suassuna, Quintino Cunha e, obviamente, Chico Buarque.
Os textos do autor são ambientados em Quixeramobim, cidade natal de Antonio
Conselheiro e Fausto Nilo. Sombreados aqui e ali, pelo menos na memória do
cronista, por frondosos pés de juazeiros e cajás. E quando já é noite, o vento
Aracati surge, amenizando a “quentura medonha”, que faz um bruto sucesso
naquela partezinha da chamada área Q. E se perguntarmos do que o cronista tem
fome, arriscaria dizer que sua fome é de exteriorizar o que sente, o que vê, o
que o entedia. E assim, como todo bom escritor, Bruno Paulino sente a vontade
de escrever cada vez mais e, escrevendo cada vez mais, se inserirá no rol
daqueles que constroem o caminho no próprio ato de caminhar.
Por Carlos Carvalho - UECE-FECLES, Doutorando em Literatura, ganhador do
prêmio de literatura UNIFOR (2009) e autor do livro “Memória de Peixe”.
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