Lá nas Marinheiras e outras crônicas (Fortaleza: Imprece, 2012) é o
primeiro livro de Bruno Paulino. Levado pelo vento aracati, Bruno Paulino
flutua por Quixeramobim, sua aldeia-universo, e vai pescando imagens para
humanizar o leitor. O título se inspira na canção do conterrâneo Fausto Nilo (Quando for de tardezinha/Minha
companheira/Na beira do rio,/Lá nas marinheiras,/Meus olhos vazios/Vão te
espiar) e o homenageia, fazendo menção também ao rio Quixeramobim, que deu
nome àquela cidade.
O autor vai alinhavando imagens da memória
(dele e dos outros) com referências históricas do município. Reencontra o avô,
vai à casa de D. Carminha, relembra canções, recebe visitantes ilustres e
poetas essenciais (Patativa, Drummond, Bandeira, Chico Buarque, Fausto Nilo,
Gonzagão e Humberto Teixeira, Ariano Suassuna, Quintana, Quintino Cunha, Ets,
Belchior, Padre Cícero) e, como não poderia deixar de ser, encontra também o
grande Tédio, com T maiúsculo, esse incentivador das artes, esse disfarçado
mecenas. Que o diga Drummond: “Eta vida besta, meu Deus!” Afinal, o que é a
crônica senão esse narrar trivial, essa fingida despretensão repleta de
subjetividade? Na crônica, o fato é apenas pré-texto, e Bruno sabe disso, pois
é a partir das cores locais, do cotidiano, das acontecências aparentemente
irrisórias que pinta seu painel humanitário, universalizante.
Bruno deixa claro, desde o início, que sua
intenção é prestar mesmo tributo a sua terra, narrando-a. Suas marinhagens são
de beira-rio, mas o rio despeja no mar. “Tem coisas que só acontecem nas
cidades do interior, mas tem coisas que só acontecem em Quixeramobim (ou
melhor, não acontecem)”. O não acontecer tem sido um ótimo assunto para a
crônica, desde que tratado com artesania. Bruno desfia lirismo, humor, ironia,
sensibilidade, crítica de costumes, tudo de maneira simples, coloquial, como
deve fazer o bom cronista.
O escritor quixeramobinense está às voltas com
o segundo livro de crônicas: A Menina da
Chuva. Que venha logo, com as chuvas, pois o Ceará merece esse tempo
fértil.
Por Carlos Vazconcelos escritor, autor de Mundo dos Vivos (contos) e Os
Dias Roubados (Romance) vencedor de alguns prêmios literários: Prêmio Edital de
Incentivo às Artes (2011) da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará; Clóvis Rolim
de contos, da Academia Cearense de Letras (2006); IX Prêmio Cidade de
Fortaleza-poesia (2000).
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