Um comentário lindo, poético e simples, como as
boas coisas da vida sobre ''A menina da chuva'', escrito com a pena da
sensibilidade e do lirismo pelas mãos da Professora Sandy Falcão:
Ontem
negligenciei obrigações e entrei na chuva como quem já há algum tempo não se
deixava lavar a alma por uma boa leitura. Envolta em leituras obrigatórias, mil
afazeres, por alguns instantes me deleitei em pausar tudo ao redor e buscar de novo a
menina que procurava nas estantes empoeiradas. Entretenimento
e passava as tardes no fundo de uma rede, ou no chão, ou em qualquer lugar que
lhe permitisse ficar imersa na leitura de um bom livro do acervo de seu pai.
Sim, porque a obra de Bruno Paulino nos faz relembrar, através de seu olhar
cuidadoso, uma sabedoria tão antiga quanto esquecida: a de que as coisas
realmente importantes, aquelas de que nos lembramos com profunda saudade, são
as pequenices, é um banho de chuva, é um videogame antigo que não se fabrica
mais, é a avó eterna, é uma cidade antiga e perdida, são os amigos. Coisas
contrárias às que esse caos em que vivemos, valoriza e busca.
Com “A menina da chuva” eu gostaria de presentear meus amigos
Bergue e Neiva, que compartilham comigo o gosto por leituras e simplicidades.
Também é a herança que eu quero que minha filha encontre numa tarde qualquer, e
se deixe dançar com a menina, dar comida ao passarinho, se ela também estiver,
um dia, absorta pela rotina de um mundo que, até lá, corre o risco de ter
perdido a capacidade de ver além da futilidade – salvo se poetas como Bruno
continuarem vivos, existindo através de suas obras.
Não sou crítica literária, ainda não sei citar teóricos de cabeça,
mas essa obra me alcançou de uma maneira que foi impossível não me lembrar de
Cecília em sua “Arte de ser feliz”, quando fala: “Às vezes, um galo canta. Às
vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades
certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não
existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente,
que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim”.
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